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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Onde a biodiversidade está mais ameaçada no planeta?

Conheça os 10 pontos mais críticos, onde pelo menos 90% da natureza foi devastada


Paulo Gama*



*Ilustração de Andrei Cardoso, design de Fábio Otubo
Considerando a porcentagem de vegetação original destruída, a bacia do mar Mediterrâneo é a região mais agonizante do planeta: apenas 4,7% da área original segue intacta e 32 espécies de animais endêmicas (que só existem no próprio lugar) estão ameaçadas de extinção. Mas neste ranking ingrato há outras nove regiões com mais de 90% do território original destruído (
veja o infográfico).
Elas fazem partede uma lista de 34 regiões definidas por organizações ambientais como as mais importantes para a conservação da biodiversidade mundial. São os hotspots: locais que possuem ao menos 1 500 espécies de plantas endêmicas e já perderam 70% ou mais de suas áreas originais. Juntas, as 34 regiões ocupam menos de 3% da superfície do planeta, mas concentram 50% de todas as espécies vegetais e 42% de todos os vertebrados da Terra.
"Você acaba com a força de evolução do planeta quando interrompe de maneira tão abrupta a existência dessas regiões riquíssimas", afirma a bióloga Monica Fonseca, da ONG Conservation International do Brasil. Duas dessas regiões estão no Brasil: a mata Atlântica, com 8% da cobertura original, e o cerrado, com 20%.

Biodiversidade em extinção

Fonte: O Globo, Ciência, p. 36


Desmatamento faz 26 espécies da Amazônia desaparecerem e ameaça outras 644

Catarina Alencastro

Mais desmatamento, menos biodiversidade. De acordo com um relatório divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), 26 espécies de animais e plantas já foram extintas por causa dos cortes na Floresta Amazônica acumulados até 2006. No mesmo período, outras 644 espécies entraram na lista de animais e plantas ameaçados de extinção. Das 26 espécies extintas, dez estão na parte brasileira da floresta. Entre as espécies ameaçadas estão o macaco-aranha (Ateles belzebuth), o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e a lontra (Luta longicaudis)
ONU pede mais sustentabilidade
O relatório Geo Amazônia aponta que, até 2005, 17% da Amazônia tinham virado cinzas. Entre as causas do desmatamento, o estudo indica a expansão da monocultura de soja e a produção intensiva de gado, especialmente na Bolívia e no Brasil, onde essas atividades representam 20% do PIB da região e empregam 30% da população economicamente ativa.

Rondônia, um dos estados campeões do desmatamento, já perdeu de 10% a 50% da cobertura florestal original, diz o texto, completando que Belém (PA) atualmente tem menos de um terço da cobertura original. Se continuar assim, alerta, até o final deste século o aquecimento global vai converter até 60% da Amazônia em savana. A extensão total de floresta desmatada historicamente até 2005 foi de 857.666 km².

Segundo o relatório, entre o ano 2000 e 2005, a Amazônia perdeu anualmente 27.151 km².

Uma das críticas aos governos dos oito países amazônicos é a falta de continuidade de políticas públicas. O estudo admite que, nos últimos anos, começaram a aumentar as áreas de exploração sustentável da floresta.

No entanto, afirma o texto, essas iniciativas não competem com atividades agropecuárias não sustentáveis em expansão. A urbanização da região também aconteceu de forma desordenada, constata o Pnuma: 62,8% vivem em grandes cidades.

O relatório Geo Amazônia previu quatro diferentes cenários para a região daqui a 20 anos. Em apenas um caso, intitulado "Amazônia Emergente", políticas públicas terão sido implementadas levando em conta o fator ambiental e o bem-estar econômico da população. Um outro fala na Amazônia "a um passo do precipício", o terceiro é o "Inferno ex-verde" e o último a "Amazônia vazia".

Carlos Minc afirmou:
- Eu apostaria no cenário da Amazônia sustentável. Estamos indo nesse caminho.

O Globo, 19/02/2009, Ciência, p. 36

Ações sustentáveis valorizam imagem de empresas

A inclusão de estratégias que valorizem o meio ambiente deve ser prioridade entre as organizações do país
 
Valorizar, preservar e incentivar o consumo sustentável tem sido prática corrente nas empresas brasileiras. Se antes, priorizar o que é sustentável era visto como um modismo passageiro, hoje é uma realidade urgente, pois, além de preservar os recursos naturais, há um reconhecimento positivo da marca por parte do consumidor, despertando simpatia pelo produto. O cliente associa as ações de meio ambiente ao comportamento das marcas.
Tanta importância tem feito com que as organizações contratem profissionais destinados a cuidar da área de responsabilidade ambiental em cada campo de atuação. Uma recente pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovou essa realidade. Das 109 maiores empresas do país, 70% delas desenvolvem ações de sustentabilidade.
A crescente busca por projetos sustentáveis tem feito as empresas observarem as propostas de outras organizações de modo a identificar as ações mais eficientes.
Gina Paladino, especialista na gestão de programas nas áreas de ciência, tecnologia, indústria, inovação e empreendedorismo, e atual consultora da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), afirma que "as grandes instituições têm internacionalizado seus projetos de sustentabilidade, inspirando-se em ideias de empresas de outros países". Gina lembra que além da preocupação com o meio ambiente, que é de fundamental importância, é necessário que se valorize o ser humano. "A maneira como se trata a população também faz parte da sustentabilidade. Tão fundamental quando se dedicar às questões ambientais, as empresas precisam cuidar dos seus recursos humanos, da parte mais social das cidades". Ela ainda lembra que esse é um setor que está aquecido, mas carente de profissionais capacitados.
Curitiba: cidade sustentável e premiada
A capital paranaense há anos se destaca por ter em seu ramo empresarial e urbano, ações que protegem o meio ambiente. Em 2010, o simpósio sobre Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês) para Formuladores de Políticas Locais e Regionais colocou Curitiba como a cidade mais sustentável do país. Em 2010, também foi eleita a cidade mais verde da América Latina, com um índice muito acima das demais concorrentes. Ainda no ano passado, a cidade recebeu do Globe Fórum, o prêmio Globe Award Sustainable City, numa votação que reuniu entidade sueca de empreendedores preocupados com a sustentabilidade global para eleger a cidade mais sustentável do mundo.

Desenvolvendo Ações Sustentáveis

Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento de ações que garanta o suprimento das necessidades da sociedade atual sem prejudicar o fornecimento de suprimento para as gerações futuras. Ou seja, preservando e multiplicando recursos, sem esgotá-los.
Sem um novo modelo econômico pautado no desenvolvimento sustentável, muitos recursos deixarão de existir, muitas sociedades deixarão de ter acesso ao que restar e muitos serão os atingidos pela escassez. O que fazer, então, para não permitir que isso aconteça?
Ações dessa natureza são complexas, pois precisam do envolvimento de cadeias e redes de organizações. É necessária uma mobilização conjunta de vários atores da sociedade. E, principalmente, é preciso admitir que os recursos são finitos, sendo a proteção e recuperação do meio ambiente uma das principais preocupações.
O primeiro passo, então, para o desenvolvimento de ações sustentáveis é a conscientização, é trabalhar a educação dos envolvidos de forma que entendam a importância de se trabalhar com esse conceito. Talvez, o mais complexo seja fazer com que apreendam e multipliquem os conhecimentos passados. Fazer com que o que foi ensinado passe a fazer parte do novo modo de vida dos envolvidos. Criar redes de discussão, grupos de trabalho, envolver empresas, comunidades e ONGs.
O segundo passo é estabelecer as áreas de prioridade (meio-ambiente, educação, geração de renda, desigualdade social etc), as atividades que se quer desenvolver e os objetivos que se quer alcançar. A partir daí, desenvolver projetos que envolvam a comunidade, mostrando que cada um é responsável pelo mundo em que se vive. O impacto social deve ser avaliado, os resultados mensuráveis e as metas executáveis.
A execução dos projetos é o terceiro passo. Aqui, é necessário atentar para a sustentabilidade do próprio projeto. Quanto mais conscientização existir, maior o número de pessoas e recursos envolvidos e maior a possibilidade de continuação. É preciso que haja uma equipe dedicada, com pessoas que conheçam os problemas abordados e as soluções propostas.
A gestão do projeto e dos recursos deve ocorrer de forma transparente, com a participação de membros da comunidade, realizando alterações sempre que necessário. Os resultados devem ser expostos à comunidade e as tecnologias desenvolvidas replicadas em outros projetos ou comunidades.
Se todos abraçarem a mesma causa, o desenvolvimento sustentável deixará de ser teoria para ser uma prática constante no mundo.

Rumo à Rio+20

15/06/2011
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Destaques

Uma conferência no Brasil, em junho de 2012 pode destravar as negociações internacionais sobre ambiente. Ou produzir novo fiasco global
Por Antonio Martins
A Copa-2014, em doze capitais, e as Olimpíadas-2016, no Rio de Janeiro, atraem mais holofotes. Mas apenas um ano nos separa de um evento internacional que, realizado em solo brasileiro, terá desdobramentos internacionais muito mais profundos – para bem ou para mal. Entre 4 e 6 de junho de 2012, a Cidade Maravilhosa acolherá a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20.
Convocada duas décadas após a ECO-92 – um divisor de águas nas relações internacionais envolvendo ambiente e desenvolvimento –, a Rio+20 vai se materializar em duas mega-atividades. O elegante Porto Maravilha, resultado da revitalização dos antigos armazéns do cais carioca, hospedará a conferência oficial. Receberá os donos do poder e as luzes da mídia. Serão protagonistas chefes de Estado, ministros, embaixadores, personalidades. Todos os países-membros da ONU enviarão delegações. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral do Itamaraty (ler entrevista às páginas x a y), imagina que poderá vir a ser “a maior conferência da história”.
A poucos quilômetros dali, estará a multidão. Os jardins que Burle Marx desenhou no Aterro do Flamengo abrigarão um evento paralelo, organizado por coalizões da sociedade civil e denominado Cúpula dos Povos. Terá a cara dos Fóruns Sociais Mundiais (FSMs). Reunirá dezenas de milhares de pessoas: chegarão de todas as partes do mundo, compondo uma babel fervilhante de idiomas, etnias, desejos. Estão envolvidas em múltiplos projetos de transformação social e nutrem distintos graus de oposição às políticas de quase todos os governos.
As relações entre os dois universos são difíceis. Em mais de uma ocasião, governos que sediavam reuniões da ONU, da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou do FMI receberam a sociedade civil com gás-pimenta e cassetetes. Em outras, dão-lhe assento cosmético na tomada de decisões. Em contrapartida, governantes queixam-se de que encontros como os FSMs limitam-se a formular críticas genéricas – ignorando correlações de forças e se recusando a apresentar alternativas concretas às políticas que condenam. Os dois mundos acalentam, além disso, expectativas muito distintas em relação à Rio+20, como se verá.
E no entanto, um cenário muito particular está se desenhando para a conferência. Ela oferece oportunidade rara de enfrentar as grandes crises planetárias que se tornaram evidentes há alguns anos: a ambiental; a alimentar e de desigualdade; a econômica; e a da governança da globalização. As expectativas criadas poderão resultar num decisivo passo adiante – ou em grande frustração. Mas a hipótese favorável só será alcançada se as diferenças entre o mundo do poder e o das sociedades civis gerarem uma espécie de tensão produtiva.

* * *
Em teoria, o mandato da Rio+20 oficial (UNCSD 2012, para a ONU) é muito amplo. A conferência foi proposta à Assembleia Geral das Nações Unidas em 2007, por Lula, em mais um lance de rara sensibilidade política. Meses antes, o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC, outro órgão da ONU) lançara um relatório em que pedia medidas urgentes para reduzir as emissões de CO2. Convocada oficialmente dois anos mais tarde, a conferência deve avaliar os resultados dos vários acordos internacionais firmados na área de desenvolvimento sustentável (o que inclui as conferências sobre Mulheres, Cidades e outras). A partir desta análise, pode definir compromissos comuns em duas vastas áreas: Economia Verde e Governança Global do Desenvolvimento Sustentável.
Esta definição geral oculta, porém, limites importantes. Tarimbada e segura, Cristina Montenegro representa no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA) desde 2004, quando esta agência instalou-se no Brasil. Participa com frequência de diálogos com os demais atores envolvidos na preparação da Rio+10: governo, empresários, sociedade civil. Exerce influência: o PNUMA compõe a chamada troika, responsável, na ONU, pela preparação da conferência (os outros dois integrantes são a agência de desenvolvimento das Nações Unidas – PNUD – e uma secretaria específica, comandada pelo diplomata chinês Sha Zukang. No entanto, não esconde a cautela, quando se trata de debater expectativas sobre os resultados da conferência marcada para junho de 2012.
“É preciso ter em mente que o mundo é muito distinto do que vivíamos na ECO-92. Considero temerário esperar os mesmos resultados”, alerta Cristina. Ela aponta duas grandes mudanças: uma na conjuntura internacional, outra no interior do próprio sistema ONU.
A segunda é a menos conhecida do público. Cristina explica: “a ECO-92 foi uma ocasião especial. Quando se realizou, já estavam amadurecidas nas Nações Unidas, após anos de negociações, três grandes convenções internacionais sobre Ambiente e Desenvolvimento. As que tratam de Mudanças Climáticas (UNFCCC) e Biodiversidade (UNCBD) foram firmadas ali mesmo, no Rio; sobre Desertificação (UNCCD), três anos mais tarde. Mas hoje, não há, na ONU, nenhum debate capaz de gerar, em curto prazo, compromissos desta envergadura”.
Além disso, o próprio sucesso inicial destes processos deu origem a estruturas de poder que não podem ser atropeladas – o que pode produzir rigidez. Clima, Biodiversidade de Desertificação já não estarão na pauta da ECO-92. Os acordos internacionais sobre cada um destes temas temas passaram, agora, ao âmbito das respectivas Conferências entre as Partes (COPs), que se realizam em geral a cada ano. A pauta da Rio+20 não prevê, por exemplo, tratar do impasse que marca as negociações sobre mudança climática e o pós-protocolo de Kyoto desde dezembro de 2009, quanto terminou melancolicamente a COP 15 sobre esse tema.
Cristina Montenegro avalia que, no cenário mundial extra-ONU, as nuvens também estão carregadas. “Em 1992, o mundo havia acabado de superar a Guerra Fria. Havia muita disposição para criar consensos. Hoje, vivemos uma série de crises. Obrigados a priorizar seus próprios problemas, os Estados tendem a deixar em segundo plano as medidas de articulação e cooperação internacional”
A Rio+20 seria, então, uma encontro faustoso em torno do nada? A representante do PNUMA rejeita esta visão pessimista. Para, os tempos são difíceis mas há tarefas estratégicas a realizar. A principal delas seria fortalecer, na estrutura das Nações Unidas, das agendas relacionadas a Ambiente e Desenvolvimento – que hoje não ocupam o primeiro plano.
Desde 1972, quando as Nações Unidas realizaram em Estocolmo sua Conferência sobre Ambiente Humano – uma precursora da ECO-92 – multiplicaram-se os órgãos que lidam de alguma maneira com os dois temas. Além de PNUD e PNUMA, partes do sistema ONU como a FAO (para Agricultura), Unesco (Cultura), Unido (Desenvolvimento Industrial) e OMM (Meteorologia) criaram braços ligados a florestas, biotecnologia e hidrologia, por exemplo.
Como resultado, diz Cristina “há uma dispersão de iniciativas, recursos, visibilidade. O conjunto
das organizações que tratam de Ambiente tem muito menos força que a Organização Mundial do Comércio”. Ou seja, reproduz-se a hierarquia básica do sistema, que submete as relações sociais (ou as busca de uma nova relação entre ser humano e natureza) à lógica dos mercados.
Sobre mudança nas estruturas da ONU relacionadas a Desenvolvimento e Ambiente, há, sim, estudos avançados, relata Cristina. Ela espera que gerem uma decisão no Rio. “Há quatro ou cinco fórmulas na mesa. Pode ser uma Organização Mundial do Meio-Ambiente, uma agência que reúna PNUMA e PNUD, um PNUMA muito vitaminado e outras. Não me inclino por nenhuma, a priori. Qualquer que seja o modelo, o importante, do ponto de vista político, é ter uma instituição forte, com peso e mandato renovado”.

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Diretora de uma das maiores OnG brasileiras – a Fase Solidariedade e Educação – co-coordenadora da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), a carioca Fátima Mello está consciente das dificuldades para arrancar, dos governos presentes à Rio+10, compromissos sólidos com a preservação do ambiente e combate às desigualdades. “Estamos tocando em capital e poder. A transição para outro tipo de economia atinge interesses muito poderosos. A criação de um sistema de democrático de governança mundial não interessa aos membros do Conselho de Segurança da ONU. Mesmo Estados como o Brasil temem aventurar-se em favor de uma nova estrutura e arriscar os espaços que conquistaram no G-20, por exemplo”.
Por isso, e ainda que realce a importância das decisões da ONU, Fátima está concentrada em dar sentido ao fórum da sociedade civil. “A mobilização tende a ser enorme. Minha preocupação é com os resultados. Temos de ir além da mera denúncia, e começar a debater os caminhos para superar as relações sociais hoje hegemônicas”. Não se trata de um novo plano para tomada do Palácio de Inverno. “As alternativas ao capitalismo existem e estão sendo praticadas. São minoritárias, mas expandem-se por toda parte. Manifestam-se na economia solidária, na luta pela circulação não-mercantil da cultura e conhecimento, nas redes de software livre, na agroecologia. Cabe-nos estimulá-las, dar-lhes visibilidade, permitir que se multipliquem”.
Fátima vê a Cúpula dos Povos como um momento decisivo neste caminho. Quer construir, para o evento, um formato que acrescente algo ao dos Fóruns Sociais. “A multiplicidade estará garantida. Os movimentos sociais ou OnGs poderão propor temas, organizar atividades, estabelecer alianças, criar redes. Mas é possível, além disso, caminhar para a construção de convergências. Para torná-las possíveis, vamos começar a mobilizar e debater desde já”.
Em 2 de julho, uma reunião internacional da sociedade civil vai dar, no Rio de Janeiro, a largada para o processo. A convocação é aberta. Os participantes deverão formar grupos de trabalho que funcionarão ao longo de meses – inclusive virtualmente. Fátima espera que os trabalhos permitam sedimentar alguns consensos. Se isso foi possível, é em torno destes acordos que se desenvolverão as centrais principais da Cúpula dos Povos, em junho de 2012. “Precisamos estar unidos para pressionar a conferência oficial em relação a alguns pontos. Nem tudo poderá ser conquistado. Mas os acordos servirão de referência para nossas lutas futuras. O que já não basta é nos limitarmos à resistência”, reconhece a diretora da Fase.

* * *
A fala de Fátima revela quão importante é, pra os movimentos da sociedade civil, estabelecer pontos de diálogo e controvérsia com o poder. Na última década, sob inspiração do FSM, deu-se uma autêntica revolução, neste universo. Perderam muito prestígio concepções herdadas das antigas tradições socialista e comunista, segundo as quais a realização dos grandes projetos acalentados pelos movimentos sociais se daria com a chegada ao poder dos partidos com os quais se identificavam. Avançou – inclusive em organizações próximas aos partidos, como a CUT – a noção de autonomia. Surgiram as redes da sociedade civil, muitas vezes mais capazes de formular alternativas que os próprios partidos de esquerda, agora focados nas lides da conquista e manutenção de governos.
No entanto, o Estado continua a ser o principal espaço onde se legitimam os direitos. Como tantas outras, as reivindicações ligadas ao desenvolvimento sustentável só têm razão de ser se aspiram a se materializar em políticas públicas.
É nelas que Rubens Bor identifica a chave capaz de destravar as negociações internaqcionais sobre ambiente e combate às desigualdades. Engenheiro e ambientalista, Born é participante ativo do comitê de quinze organizações que prepara a Cúpula dos Povos. Representa, junto com Aron Belinky, a ONG Vitae Civilis, que reúne, em seu site, a documentação mais completa sobre a Rio+10, vista a partir da ótica da sociedade civil.
Born vê uma grande janela de oportunidade na conjuntura internacional. “A ECO-92 definiu uma estrutura avançada de políticas. Mas foi seguida pelos anos do neoliberalismo, que recomendavam reduzir o Estado ao mínimo e enxergavam no mercado o instrumento mais virtuoso prar reger a sociedade. Uma década depois, o primeiro balanço da grande conferência, feito na chamada “Rio+10” (em Johanesburgo), sacramentou esta visão tacanha”.
O cenário, agora, é outro, frisa Born. “Os próprios mercados reconhecem que precisam da mão do Estado. A Rio+20 pode recuperar o terreno perdido e conservar um feixe de políticas públicas para transição a um novo modelo”.
Quais seriam estras políticas? Quando Rubens Born começa a elencar exemplos, surge um desenho paradoxal. As propostas só soam utópicas se vistas a partir da ótima de um mundo submetido às lógicas de mercado. Não constituem um programa dirigido a vanguardas revolucionárias, mas a seres humanos comuns, preocupados ao mesmo tempo com o planeta e com suas responsabilidades quotidianas.
Dois breves exemplos, entre milhares de outros, são ilustrativos. Born pensa que Lula estava coberto de razão ao canalizar recursos para a indústria, visando evitar demissões, durante a crise financeira. Mas ressalva: “os benefícios fiscais gerariam os mesmos empregos, se fossem destinados ao transporte coletivo. Nesse caso, ajudariam a reverter a cultura de idolatria ao automóvel, que está tornando insuportável mover-se nas metrópoles”.
O ambientalista também lembra: estudos recentes preveem desabastecimento de água em algumas das grandes áreas metropolitanas brasileiras, dentro de poucas décadas. O preço dos imóveis nas áreas centrais está provocando migração para as periferias – onde, em geral, situam-se os mananciais. Ele tem uma proposta perfeitamente exequível para enfrentar a ameaça: “Por que não iniciar já o reflorestamento dos entornos das metrópoles, com políticas de reforma urbana que, além de resolverem a encruzilhada ambiental, gerarão uma grande quantidade de empregos verdes”?
Nesse ponto, aparece com clareza a tensão produtiva que as duas grandes atividades de 2012 – Rio+20 e Cúpula dos Povos – podem gerar, a partir de suas próprias diferenças. Sem o tempero da pressão social, é provável que a conferência oficial termine de forma pífia ou, pior, em nova frustração. Mas para continuar avançando na construção das novas lógicas sociais, e conquistar alguma vitória na preservação do ambiente e redução das desiguldades, a sociedade civil precisa ser capaz de apresentar propostas claras. Os próximos doze meses dirão se este primeiro passo é possível.

Fonte: http://www.outraspalavras.net/2011/06/15/rumo-a-rio20/

Florestas Inteligentes recupera Mata Atlântica e detentos

Criado pelo produtor rural Marcos Barbosa, o projeto Florestas Inteligentes se baseia numa ideia muito simples, que está trazendo resultados bastante significativos para a natureza e a comunidade da cidade de Tremembé, em SP: trata-se de um viveiro de mudas implantado na Penitenciária Edgar Magalhães Noronha, que, além de ajudar na recuperação da Mata Atlântica, contribui para a reinserção de seus presidiários no mercado de trabalho



Atualmente, cerca de 1.700 detentos cumprem pena em regime semiaberto na Pemano - Penitenciária Edgar Magalhães Noronha, localizada na cidade de Tremembé, no interior de São Paulo. Os presidiários têm direito a deixar o local, temporariamente, cinco vezes por ano, mas é na própria prisão que alguns deles estão vivendo seus dias de maior realização pessoal, graças ao projeto Florestas Inteligentes.

Criada, em 2010, pelo produtor rural Marcos Barbosa, a iniciativa convida 60 detentos - selecionados pelo critério de bom comportamento - a trabalhar em um viveiro de mudas nativas da Mata Atlântica, localizado dentro do próprio presídio, que atualmente conta com quase dois milhões de árvores, de cerca de 130 espécies diferentes.

Pelo trabalho, os presidiários recebem, mensalmente, um salário mínimo e mais 10% desse valor, que é enviado a uma poupança, cujo acesso será liberado após o cumprimento da detenção. Além disso, conquistam o direito de ter uma redução de pena de um dia, a cada três trabalhados no viveiro. Já as mudas cultivadas no local são vendidas para projetos de restauração da Mata Atlântica ou, ainda, de compensação ambiental e neutralização de emissões de carbono, contribuindo para a conservação do bioma.

"É gratificante ver que o projeto está ajudando a recuperar, de uma só vez, florestas e pessoas. O que mais posso querer? Me sinto realizado", disse Marcos Barbosa, durante debate promovido pelo projeto Estéreo Saci, do Instituto Itaú Cultural, que neste ano promoveu encontros sobre o tema "Lixo, Moda e Preconceito".

Na ocasião, o produtor rural ainda comentou que a maior recompensa do Florestas Inteligentes é assistir à reciclagem interna dos detentos. "Eles ficam esquecidos nas penitenciárias, são vistos como verdadeiros resíduos da sociedade e sentem o peso desse rótulo. Assistir à recuperação da autoestima desses homens, a partir do trabalho, é incrível. Para mim, é um tapa na cara daqueles que acham que os presos são vagabundos, porque não são! Atuando 29 anos como produtor rural, nunca vi pessoas com tanta vontade de trabalhar como eles. Falta oportunidade mesmo", destacou Barbosa.

Os resultados do projeto Florestas Inteligentes foram tão positivos que Barbosa fechou uma parceria com a Universidade Pública de Taubaté, que fica próxima à cidade de Tremembé, para oferecer cursos de capacitação profissional, com diploma, para os presos que cumprirem suas penas. Entre eles, estão cursos de jardinagem, restauro florestal e horticultura. "E também conseguimos que a prefeitura da cidade ofereça curso de alfabetização para os detentos, já que cerca de 50% deles não sabem ler e escrever", contou o produtor.



2011: Sustentabilidade levada a sério

O ano que se inicia deverá contar com o engajamento dos líderes e executivos para que os valores sustentáveis saiam do papel para o dia a dia das organizações

Por muito tempo estivemos preocupados com ganhos em escala e lucros em detrimento do meio ambiente. Hoje, de modo prepotente, pensamos em “salvar” o planeta Terra. A verdade é que a humanidade é um cisco na história do mundo. A Terra existe há
100 milhões de anos. Eu disse milhões. E a humanidade possui alguns poucos milhares de anos. Ou seja, o planeta não irá acabar, o que pode acabar é a humanidade, extinta por sua própria imprevidência e desequilíbrios causados ao meio ambiente.

Portanto, não é necessário se preocupar com o futuro da Terra, afinal, os dinossauros já passaram por aqui, várias espécies foram extintas e novas formas de vida surgiram e surgirão no futuro. A preocupação deve estar focada no futuro da humanidade e com a herança que pretendemos deixar aos nossos filhos e netos.

Sendo assim, costumo definir sustentabilidade de uma forma direta: sustentável é durável, se possível permanente. E por isso mesmo as táticas de curto prazo que causam prejuízos futuros não podem ser sustentáveis.

A preocupação inicial sobre as práticas agressoras do homem foi em relação ao meio ambiente. Posteriormente, em uma segunda onda, surgiu a preocupação social. E hoje eu apelidaria de sustentabilidade 3.0 a base para um mundo sustentável, alicerçada em premissas de conscientização, educação e ética.

Aguçar a visão

No último 33º Fórum de Líderes, realizado em São Paulo, a preocupação com os conceitos sustentáveis foi apresentada pelos palestrantes para mais de 1.200 líderes reunidos. Um dos questionamentos foi do Dr. Ozires Silva, que abriu sua palestra dizendo aos líderes: “Onde estaríamos hoje se não fosse a Escola?”. Wow! Já parou para pensar nisso? Pois é, toda a nossa capacidade criativa e de inteligência precisam ser direcionadas, estimuladas e incentivadas.

A preocupação com a capacitação desses gestores está sendo amplamente discutida em todas as capitais brasileiras e por diversos especialistas, como Cesar Souza que discorreu suas preocupações com os aspectos sustentáveis em sua palestra no 1º Fórum de Líderes Nordeste, realizado em Recife, e, recentemente, publiquei um artigo em que discorro a falta de líderes, reforçada por uma pesquisa realizada pela HSM em conjunto com a Empreenda.net.

Outro evento recente foi o CEO Fórum 2010, realizado pela AMCHAM em Recife. O tema foi “Gestão Estratégica para a Competitividade” e os palestrantes trataram bastante o tema sustentabilidade, o que nos faz perceber o quão importante é essa temática para as organizações atualmente. Na ocasião, o presidente da Dell Brasil, Raymundo Peixoto, apresentou a caminhada “verde” da empresa para o desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis e ecologicamente corretos.
Entre as iniciativas está a utilização de embalagens feitas de fibra de bambu e o uso mais racional das embalagens, matérias-primas e insumos sustentáveis e, por fim, a importância da inovação para criar produtos mais eficientes e de menor consumo energético.

Também tivemos uma palestra muito legal de André Vercelli, da Kraft Foods Nordeste, que apresentou um case da empresa sobre o apoio à comunidades carentes e o desenvolvimento e capacitação de sua mão-de-obra própria para a instalação da fábrica de Vitória de Santo Antão.

Em todos esses eventos que une os principais líderes, executivos e gestores do país, a educação e capacitação desses brasileiros é o calcanhar de Aquiles para promover conceitos de sustentabilidade em 2011. Não é apenas meio ambiente, o social ou o econômico. O problema da (in) sustentabilidade está na (falta de) educação.

Ética é a palavra de ordem e a conscientização é o único caminho. Um exemplo muito bom é a Lipor, empresa portuguesa que criou um Plano de Educação Ambiental 2009/2011, tendo como objetivo a promoção da educação e sensibilização dos cidadãos para a sua mobilização em relação às iniciativas de proteção ao meio ambiente.

Ou seja, como apresentado por Cesar Souza, colunista da HSM que esteve presente no 33º Fórum de Líderes, o triple bottom line precisa ser entendido para englobar as pessoas. E neste sentido, 2011 é um ano em que precisaremos de lideranças preocupadas com a sustentabilidade, se é que as empresas querem se perpetuar, incluindo ao trinômio ambiental-social-econômico uma visão holística de negócio + sociedade + planeta.

O próprio posicionamento dos negócios é um item essencial de sustentabilidade dentro das organizações e precisa fazer parte do pensamento estratégico e não apenas de um documento em papel realizado uma vez por ano chamado de “plano estratégico”. O pensamento estratégico é um ser e fazer do dia a dia.

Concluímos que o próximo passo da sustentabilidade é conscientizar, educar e liderar o pensamento sustentável e sua implementação. Será que estamos preparados?

Mário Henrique Trentim (Diretor da iPM Consult – Consultoria Inteligente, professor e coordenador dos cursos de MBA da CEDEPE Business School em gerenciamento de projetos e membro voluntário do PMI Pernambuco da Diretoria Adjunta do Chapter)